Querido Diário: Querido Diário...

Querido Diário...

“Você disse que era só sexo, e eu concordei deixando você tirar minha roupa. Porque não havia mal nenhum em sexo, com um amigo, ou no caso, com o cara que eu conhecera a uma semana. Um pouco de conversa casual e prazer depois do vinho no terraço da minha casa? Isso não me levaria a ficar escondida no quarto, desejando não ver nenhum homem mais na minha vida, porque beltrano levou um pedaço da minha alma quando disse tchau. Não, sexo era só sexo. Dois corpos em busca de satisfação, puramente egoísta, que não tinha nada haver com aquele tal do amor masoquista e melodramático, que exigia tempo integral da minha exaustão. Então, eu fiz sexo com você. Na primeiro dia, na segunda semana, e no terceiro mês do ano, onde eu já nem lembrava mais do outro cara. Porque era contigo que eu passava o dia inteiro trocando sms, e rindo na sexta feira à noite do novo estagiário da sua empresa. E depois, diversão na sua casa é claro. Foi contigo que passei o final de semana em casa porque não conseguia ficar sozinha,- eu tava carente, chata, e matando um aos gritos -, mas você ficou lá, mesmo não tendo sexo. E no quinto mês também, quando tu disse, que não queria festa de aniversario, porque todo antissocial não gostava de gente, que eu, por sinal, era a única ser humana tipicamente nova iorquina que você suportava, porque eu te dava sexo, é claro. então, fiz uma surpresa, apareci na porta da sua casa com um sobretudo da loja de departamento que odiava, com a lingerie da sua cor favorita, e cupcake nas mão , te desafiando a não gostar desse aniversário. E depois de me melar inteira de chantilly no balcão da cozinha, tu disse que aquela fora a primeira vez que comemorava a data desde que seus pais se foram, num acidente de carro, e eu te conheci mais um pouco. Como naquela semana que passamos na casa de praia. Só eu, você, e sexo, na areia, no quarto, na varanda, e perto da lareira. Você me ensinava o que eu de menina ingênua, nunca quis conhecer, mas com o meu melhor amigo, não tinha mal em aprender, porque você já conhecia todos os meus lados como ninguém. A gente andava de mãos dadas na rua, e só soltava quando achava que alguém era suficiente pro outro e vice-versa. Sempre na brincadeira, de quem se queria mais, de quem sabia se provocar mais. A gente falou que se amava tantas vezes e eu nem me dei conta, a nossa amizade era a melhor que existia: sexo, amigos e bebidas. Conversas, desabafos e química. E quanta química, física, matemática, biologia e anatomia. Só não tinha amor, porque éramos só… Eu já não sabia. Pelo menos não soube quando você me disse que queria pegar uma garota, pegar não, ficar sério. Eu tentei lembrar o nome dela, porque tu já tinha me falado milhares de vezes, só não dei atenção, as tantas agulhazinhas que me beliscavam quando você falava da tal Júlia do seu setor. Loira, alta, saída de uma capa de revista, acho. Eu era mais gostosa, pensei, filho de uma mãe hipócrita, você não falava que não gostava desses tipinhos? Te deixei pra lá, com a tua nova namorada. A gente parou de se falar, de se encontrar, e você não ia mais assistir três tipos de gêneros diferentes, de filme comigo aos domingos.
E ai, eu fiz sexo com outro cara, com outros na verdade. Mas nenhum deles sabia me extasiar, ter uma conversa confortável na cama, ou me deixar a vontade com a luz acesa. Eles só falavam que eu era linda, maravilhosa me deixando irritada, me deixando puta. Porque não era o que eu queria saber. Queria era que conseguissem me deixar insana dentro dos vidros do box banheiro, ou que conhecessem cada ponto fraco da minha pele esbranquiçada, como você. Eu senti sua falta. Do sexo, das conversas, dos dias. Até o seu espaço na minha cama sentia sua falta. Porque tinha deixado de ser sexo. E eu tava trancada no meu quarto não querendo ver mais nem outro beltrano na minha frente outra vez.”






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